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sexta-feira, maio 14, 2010

Agnes Bojaxhiu - Madre Teresa De Calcutá
Nasc: 26/08/1910 - em SKOPJE,na ALBÂNIA
Desc: 05/09/1997 - em CALCUTÁ, na ÍNDIA
Aos 18 anos, ingressou na ordem religiosa irlandesa das Irmãs Loretto, escolhendo o nome de Teresa por ser devota da santa de Lisieux.
Em 6 de janeiro de 1929, desembarcou no porto de Calcutá, na época a maior cidade do império britânico, depois de Londres.
Durante 16 anos, ensinou geografia, numa das escola de freiras mais aristocráticas da capital do Estado de Bengala Ocidental. Sua vida pacifica foi transformada após uma viagem de trem à cidade de Darjeeling no dia 10 de setembro de 1946. Quando o trem passava por um túnel, Teresa ouviu um chamado em seu coração.
"Foi uma ordem" contou.
"Tive que abandonar o conforto do convento, abrir mão de tudo e seguir Jesus.
Servi-lo por meio dos mais pobres de seus pobres."
Tinha 36 anos. Sete meses depois, recebeu do Vaticano a permissão de deixar o convento e fundar uma nova ordem religiosa, a congregação das Missionárias da Caridade, dedicada a "cuidar dos doentes e moribundos nas favelas, educar as crianças de rua, cuidar dos mendigos e abrigar os abandonados". As regras da ordem são rígidas. "Colocar-se inteiramente e de todo o coração à livre disposição dos pobres", além dos três votos habituais: pobreza, castidade e obediência.
Caminhava sob as chuvas das monções quando tropeçou no corpo de uma velha moribunda. Teresa parou, fechou os olhos da mulher, fez o sinal da cruz e orou a seu lado por alguns momentos. "Nessa cidade os cachorros têm tratamento melhor do que os humanos", refletiu. Na manhã seguinte, ela foi à Câmara Municipal de Calcutá, sendo recebida por um dos representantes do prefeito, a quem pediu "um lugar onde eu possa receber os moribundos e ajudá-los a comparecer diante de Deus com dignidade e amor". A prefeitura pôs à sua disposição uma construção extravagante que servira de abrigo para os peregrinos hindus que visitavam o vizinho templo dedicado à deusa Kali, padroeira de Calcutá.
Madre Teresa enxergou no presente a intervenção de Deus, porque era em torno dessa área que muitos dos miseráveis se reuniam para morrer, na esperança de serem cremados nas piras funerárias do templo. A chegada da cristã, usando um crucifixo sobre o sari provocou muita surpresa.
Os hindus ortodoxos começaram a reclamar.
Circulou um boato de que a Teresa estava ali para converter os moribundos ao cristianismo.
Ocorreram incidentes hostis.
Um dia, uma chuva de pedras saudou uma ambulância que levava homens e mulheres doentes encontrados nas ruas.
As freiras foram ameaçadas e insultadas. Teresa caiu de joelhos diante da multidão. "Matem-me!", gritou. "Assim irei ao céu em menos tempo." Delegações do bairro foram à prefeitura e à policia pedir a expulsão da freira estrangeira. O chefe de policia prometeu fazer o que lhe pediam, mas só depois de uma investigação.
Ele encontrou madre Teresa cuidando de um velho que acabara de ser levado ao local. Ele estava caído, magro como um esqueleto, sujo, com as pernas inchadas e com ulceras sangrentas. "Meu Deus, como ela pode suportar tudo isso?" o policial se perguntou. Madre Teresa estava limpando as feridas do homem, falando em voz doce com ele, dizendo a ele que iria melhorar, que não precisava ter medo. O chefe de policia ficou comovido. Do lado de fora, um grupo de fanáticos o aguardava.
Ele disse: "Prometi a vocês que vou expulsar a estrangeira e vou cumprir o que prometi. Mas só depois que suas mães e irmãs vierem aqui fazer o trabalho que ela faz." Alguns dias depois, madre Teresa viu um grupo de pessoas diante do santuário vizinho. Um homem estava caído ao chão, branco como um cadáver. Em volta do ombro, usava a corda tripla sagrada dos brâmanes. Era um sacerdote do templo. Ninguém ousava tocar nele, porque tinha cólera.
Madre Teresa o tomou nos braços e o levou para dentro do abrigo. Ela cuidou do brâmane dia e noite, e ele sobreviveu. Pouco depois, ele declarava: "Durante 30 anos adorei uma Kali feita de pedra. Agora venero uma Kali feita de carne e osso." A noticia da salvação inacreditável percorreu a cidade. Ambulâncias começaram a chegar ao local, carregados de pobres à beira da morte. Pouco depois, madre Teresa já dizia: "Nossa Casa do Coração Puro é a jóia de Calcutá". e a cidade a tomou sob sua proteção.
Em 45 anos, madre Teresa recebeu mais de 100 mil pobres moribundos e famintos em seu abrigo.
No dia 15 de fevereiro de 1953, a nova instituição fundada por madre Teresa, Sishu Bhavan, a Casa das Crianças, recebeu seu primeiro hóspede, um bebê prematuro achado num lixão, envolto em jornais. Pesava menos de 1,2 kg e estava tão fraco que não conseguia mamar. Teve que ser alimentado por um tubo inserido em seu nariz. Madre Teresa lutou para salvar sua vida e conseguiu.
Em pouco tempo, dúzias de bebês ocupavam os berços. Como alimentar todas as pessoas que agora tinha sob seus cuidados? "Deus cuidará disso", dizia. E Deus provou que estava certa. Cidadãos ricos enviavam arroz, cestas de legumes e peixes.
Embora a cidade de Calcutá fosse super povoada, madre Teresa não hesitou em declarar guerra ao aborto - uma guerra que travou incansavelmente até a morte, procurando em toda a parte, como fez em Oslo diante dos dignitários reunidos para lhe conceder o prêmio Nobel da Paz.
Depois dos moribundos e das crianças, madre Teresa voltou sua Compaixão aos leprosos. Havia milhares deles em Calcutá. Num terreno doado, ela ergueu um abrigo para alojar os doentes mais graves. Ela os visitava todos os dias, levando comida, cuidando de suas feridas e confortando-os. Como emblema, madre Teresa escolheu o antigo símbolo da doença: um sino, igual ao que os leprosos de séculos atrás tinham que tocar para avisar as pessoas de sua presença amaldiçoada. Ela criou um slogan: "Vamos tocar um leproso com nossa compaixão". 0 resultado superou as expectativas. Logo, ela pôde iniciar a construção de uma cidade inteira reservada aos leprosos: Shanti Nagar ou a cidade da Paz.
0 seu trabalho de amor e caridade se espalhou por outras cidades da índia e do exterior, sendo que para madre Teresa, nenhuma ação era possível sem a ajuda da oração e o apoio da presença divina. "Precisamos de um momento de silêncio todos os dias, para receber a Deus e sua palavra". "Não há razão para desistir quando se sabe que é possível achar razões para ter esperanças".

Transcrição
Espaço Amigo

Madre Tereza de Calcutá

 “Muitas vezes as pessoas
são egocêntricas, ilógicas e insensatas.
Perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil,
as pessoas podem acusá-lo de interesseiro.
Seja gentil assim mesmo.
Se você é um vencedor,
terá alguns falsos amigos e alguns inimigo verdadeiros.
Vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco,
as pessoas podem enganá-lo.
Seja honesto e franco assim mesmo.
O que você levou anos para construir,
alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz,
as pessoas podem sentir inveja.
Seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje
pode ser esquecido amanhã.
Faça o bem assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você,
Mas isso pode não ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.
Veja você que, no final das contas,
é tudo entre você e Deus.
Nunca foi entre você e os outros.”
Fiquem em paz



terça-feira, maio 11, 2010

ALLAN KARDEC


 
Hippolyte Léon Denizard Rivail, ou simplesmente Allan Kardec, foi o codificador da Doutrina Espírita. Antes de conhecermos melhor a vida deste professor francês, mostraremos como foi seu primeiro contato com o mundo espiritual, que conseqüentemente serviu de marco inicial para o Espiritismo.

Kardec e os Espíritos

Em 1855, Hippolyte Léon Denizard Rivail, professor francês de aritmética, pesquisador de astronomia e magnetismo, foi convidado por um amigo seu a ver de perto estas manifestações que ocorriam nos salões da capital francesa. Rivail era discípulo de Pestalozzi, chamado de pai da pedagogia moderna, e casado com Amélie Gabrielle Boudet. Nascido em 03 de outubro de 1804, na cidade de Lyon, já ouvira sobre o assunto das mesas girantes e não entendia bem o que estava acontecendo. Homem criterioso, Rivail não se deixava levar por modismos e como estudioso do magnetismo humano acreditava que todos os acontecidos poderiam estar ligados à ação das próprias pessoas envolvidas, e não de uma possível intervenção espiritual.
O professor então participou de algumas sessões, e algo começou a intrigá-lo. Percebeu que muitas das respostas emitidas através daqueles objetos inanimados fugiam do conhecimento cultural e social dos que faziam parte do "espetáculo". Como os móveis, por si só, não poderiam mover-se, fatalmente havia algum tipo de inteligência invisível atuando sobre os mesmos, e respondendo aos questionamentos dos presentes.
Rivail presenciava a afirmação daqueles que se manifestavam, dizendo-se almas dos homens que viveram sobre a Terra. Foi então, que uma das mensagens foi dirigida ao professor. Um ser invisível disse-lhe ser um Espírito chamado Verdade e que ele, Rivail, tinha uma missão a desenvolver, que seria a codificação de uma nova doutrina .
Atento aos dizeres do Espírito, e depois de muitos questionamentos à entidade, pois não era homem de impressionar-se com elogios, resolveu aceitar a tarefa que lhe fora incumbida.
O Espírito de Verdade disse-lhe ser sim uma falange de Espíritos superiores que vinha até aos homens cumprir a promessa de Jesus, no Evangelho de João, capítulo XIV; versículos 15 a 26: "E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conhecereis, porque habita convosco e estará em vós... Mas, aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito".
Através dos Espíritos, Rivail descobriu que em uma de suas encarnações anteriores foi um sacerdote druida, de nome Allan Kardec.
Foi então que resolveu adotar este pseudônimo durante a codificação da nova doutrina, que viria a se chamar Doutrina Espírita ou Espiritismo. Kardec assim procedeu para que as pessoas, ao tomarem conhecimento dos novos ensinamentos espirituais, não os aceitassem por ser ele, um conhecido educador, quem estivesse divulgando. Mas sim, que todos os que tivessem contato com a boa nova a aceitassem pelo seu teor racional e sua metodologia objetiva, independente de quem a divulgasse ou a apoiasse.

A Codificação

A partir daí foram 14 anos de organização da Doutrina Espírita. No início, para receber dos Espíritos as respostas sobre os objetivos de suas comunicações e os novos ensinamentos, Kardec utilizou um novo mecanismo, a chamada cesta-pião: um tipo de cesta que tinha em seu centro um lápis. Nas bordas das cestas, os médiuns, pessoas com capacidade de receber mais ostensivamente a influência dos Espíritos, colocavam suas mãos, e através de movimentos involuntários, as frases-respostas iam se formando. Julie e Caroline Baudin, duas adolescentes de 14 e 16 anos respectivamente, foram as médiuns mais utilizadas por Kardec no início.
Com o decorrer do tempo, a cesta-pião foi dando lugar à utilização das próprias mãos dos médiuns, fenômeno que ficou conhecido como psicografia.
Todas as perguntas e respostas feitas por Kardec aos Espíritos eram revisadas e analisadas várias vezes, dentro do bom senso necessário para tal. As mesmas perguntas respondidas pelos Espíritos através das médiuns eram submetidas a outros médiuns, em várias partes da Europa e América. Assim, o codificador viajou por cerca de 20 cidades. Isso para que as colocações dos Espíritos tivessem a credibilidade necessária, pois estes médiuns não mantinham contato entre eles, somente com Kardec.
Este controle rígido de tudo o que vinha de informações do mundo espiritual ficou conhecido por "Controle Universal dos Espíritos". Disto, estabeleceu-se dentro da Doutrina Espírita que qualquer informação vinda do plano espiritual só terá validade para o Espiritismo se for constatada em vários lugares, através de diversos médiuns, que não mantenham contato entre si. Fora isso, toda comunicação espiritual será uma opinião particular do Espírito comunicante.
Com todo um esquema coerentemente montado, Allan Kardec preparou o lançamento das cinco Obras Básicas da Doutrina Espírita, a Codificação, tendo início em 1857 com o lançamento de "O Livro dos Espíritos". Estes livros contêm toda a teoria e prática da doutrina, os princípios básicos e as orientações dos Espíritos sobre o mundo espiritual e sua constante influenciação sobre o mundo material.
Durante a codificação, Kardec lançou um periódico mensal chamado "Revista Espírita", em 1858. Nele, comentava notícias, fenômenos mediúnicos e informava aos adeptos da nova doutrina o crescimento da mesma e sua divulgação. Servia várias vezes como fórum de debates doutrinários, entre partidários e contrários ao Espiritismo. A Revista Espírita foi a semente da imprensa doutrinária.
No mesmo ano, Kardec viria a fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Constituída legalmente, a entidade passou a ser a sociedade central do Espiritismo, local de estudos e incentivadora da formação de novos grupos.
Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, aos 65 anos, vítima de um aneurisma. Sua persistência e estudo constantes foram essenciais para a elaboração do movimento espírita e organização dos ensinos do Espírito de Verdade.


Copyright by Grupo Espírita Apóstolo Paulo

Flamboyant da minha Rua


Feliz, sorria para mim todas as manhãs.
De braços estendidos, aliás, diversos, me permitia sentir o abraço.
Assim era a bela árvore, que aos meus olhos de menina ali fora colocada para alegrar as minhas manhãs ao sair em direção à Escola.
Não existia Rua mais linda, nenhuma contava com um pé de flamboyant, carregadinho de flores. Só a minha Rua!
De tão admirado, decidiu florescer o ano inteirinho. Flores caiam e nasciam de forma harmônica para que os braços longos que pareciam até galhos não ficassem vazios.
Eu cresci e ele permaneceu inalterado, deixei a rua, o bairro, mudei minha vida e voltei para visitá-lo.
Fui tomada de grande emoção ao percebê-lo no mesmo lugar, na calçada, bem na esquina. Os braços bem menores, não pareciam me abraçar, as flores pouca, muito poucas, faltou o sorriso, o que fizeram ao meu querido flamboyant?
Fechei os olhos e na minha lembrança ali estava ele, o mesmo que sempre existirá!

segunda-feira, maio 10, 2010

A Morte de um Amigo

Dor que dói por muito tempo é a que experimentamos ao constatarmos a morte de um amigo.


Não me reporto a morte oriunda da enfermidade, do acidente, esta modalidade de morte, ante a crença que professo,me entristece, é certo, mas me permite acreditar que em breve, tão logo, manteremos contato.

A Dor que dói sem cessar é a morte pela constatação da deslealdade. O amigo desleal pratica ato bárbaro de imensurável crueldade. De início pensamos não ser verdade, ante a perplexidade, insistimos em afirmar que a nossa visão está comprometida, que é impressão...

O tempo, porém, que tem por encargo contribuir para o nosso crescimento, e para tanto, nos faculta abrir os olhos, sentir o gosto, cheirar o cheiro, experimentar na própria pele, evidencia que aquele que denominamos de amigo, que guardamos em nosso coração, que desejamos jamais nos separar, decidiu por ser mostrar como realmente é, não resistiu à representação, cansou do papel de boa gente, desistiu...

A evidencia da desistência está configurada na traição da confiança, na manifestação inconteste da deslealdade, comprovada ante os diversos acontecimentos.

A deslealdade revela que houve por parte de quem pensamos ser amigo o fingimento, a dissimulação a preocupação tão somente em tirar proveito, o desejo de obter vantagens, não importa de que ordem.

O homem desleal age com naturalidade, alheia-se, simula, mente e oculta, sem o menor envolvimento, sem comiseração para com aquele que o elegeu para amigo.

Perniciosa a deslealdade, machuca, sepulta sonhos, mata a esperança, podendo destruir quem a experimenta. Quem pratica, penso eu, evidencia a enfermidade moral, não acredito que quem mente, quem esconde, quem omite, quem engana, quem abandona, possa desfrutar da paz.

Quem cultiva fatores desagregadores não é feliz mesmo que fale em Deus, que exteriorize pratica religiosa, que cante louvor. Forte exemplo encontramos no Evangelho: a negação de Pedro, a atitude de Judas. Em todas as duas citações, retrata a história o inferno emocional de ambos.

Reservado está para quem experimenta tão dolorosa situação, esperar passar o luto.

terça-feira, maio 04, 2010

A vida me ensinou...
A dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração;
Sorrir às pessoas que não gostam de mim,
Para mostrá-las que sou diferente do que elas pensam;
Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade, para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;
Calar-me para ouvir; aprender com meus erros.
Afinal eu posso ser sempre melhor.
A lutar contra as injustiças; sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo.
A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhoso com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;
Amar aos que me machucam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos;
Perdoar incondicionalmente, pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente, pois também preciso desse amor;
A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordado;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;
A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Me ensinou a ter olhos para "ver e ouvir estrelas",
embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;
A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;
A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;
Me ensinou e está me ensinando a aproveitar o presente,
como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesmo tenha que lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher.
Charles Chaplin

A Gente Se Acostuma


Eu sei que a gente se acostuma, Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite.

A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e a dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz.
E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais.

A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber. Vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente se senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Marina Colassanti

 
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