Encerrei as atividades e saí pela metade; a outra metade foi acompanhando aquelas crianças e adolescentes que permanecem nos meus momentos de reflexão, de desejo, de pensar a vida... O trabalho social com crianças e adolescentes é difícil. Experimento períodos de angústia e momentos fascinantes.
A angústia decorre da constatação de que vivemos numa sociedade que não consegue dar conta da sua criança, e do seu adolescente ambos em situação de vulnerabilidade social, que sofrem as consequências das desigualdades sociais, da desagregação familiar.
É difícil, porque cada um é um universo, rico de experiências, transbordando emoções; daí nasce para mim o fascínio: senti-los não destinados ao fracasso, capazes de superar as adversidades, de resistir às provocações, de superar as frustrações, de dar e receber afeto...
Em se tratando de crianças e adolescentes, não nos falta Lei: “O Estatuto da Criança e do Adolescente” é uma ferramenta que adequadamente utilizada faculta ao operador ousar na defesa dos direitos dos seus tutelados.
Diante do texto legal, podemos afirmar que todas as crianças e adolescentes são iguais perante a Lei. A igualdade formal positivada na Norma Geral, não assegura, porém, aos sujeitos tutelados, as mesmas oportunidades, as mesmas condições, os mesmos atendimentos.
Deparamo-nos, por conseguinte, com o descompasso entre o conceito de igualdade formal e igualdade material. O princípio inspirador, que é o da dignidade da pessoa humana, penso fenecer diante da realidade das nossas crianças e dos nossos adolescentes, os quais vivem em situação de risco.
É comum atribuir à família a responsabilidade pela situação dos filhos. Temos em mente que a família é o núcleo primário de proteção, afeto e socialização.
As pesquisas afirmam que a afetividade é a base do relacionamento familiar; que ser pai e mãe deve ser decisão do coração, muito mais do que decisão biológica. O ingrediente essencial ao funcionamento harmônico da engrenagem familiar é o amor, elemento que permite a união socioafetiva e a falta desse ingrediente causa o que estamos experimentando em todos os níveis da sociedade hodierna.
A família é composta por membros de um sociedade que adoeceu e vive na defensiva. Temendo as acusações, a família culpa a sociedade e esta responsabiliza a família.
Na tentativa de minimizar o resultado, surgem os movimentos ocasionais em favor da criança abandonada; do adolescente viciado; prostituído; excluído; etc...
Surgem, ainda, os projetos sociais de natureza pública ou privada; os atos isolados de natureza filantrópica. Em que pese a importância de cada ato, fico angustiada porque sei que diante a aceleração no cotidiano, das exigências sociais, dos padrões estabelecidos, das ditaduras da beleza, do sucesso etc, cada até amanhã pode ser um “Adeus”.
1 comentários:
Parabéns pelo artigo, para reflexão sobre o tema abordado.
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